Redes sociais

 

Vamos deixar de ver “likes”. E agora?

Primeiro, o Instagram. Em julho passou a esconder o número total de “likes” nas fotos e visualizações dos vídeos em sete países. Depois, o Facebook. Em setembro deixou de mostrar as reações às publicações, em testes na Austrália e Vietname. A seguir, o Twitter, que ainda não foi tão longe. Para ver o número de partilhas e gostos, é necessário clicar no “tweet”.

 

E agora, o que vai acontecer com o fim dos “likes”? A questão é lançada pelo jornal espanhol “El País”, que anuncia o “fim de uma era”. A “posição privilegiada” das redes sociais é “posta à prova”.

 

No dia 17 de julho, o Instagram anunciou que estava a fazer testes em que se esconde o número de “likes” e visualizações dos vídeos para alguns utilizadores em sete país. A experiência começou no Canadá no início do ano, mas foi depois estendida a mais seis países: Austrália, Brasil, Irlanda, Itália, Japão e Nova Zelândia.

Os gostos nas fotos do Instagram passam a estar escondidos para todos os utilizadores menos para quem as publica. O objetivo da experiência é que as pessoas se concentrem no conteúdo partilhado em vez da popularidade. “Queremos que os teus amigos se foquem nas fotografias e vídeos que publicas, não na quantidade de likes que tens”, explicou a rede social.

 

A proposta foi criada pelo Facebook, que é desde 2012 proprietário da aplicação de fotografias e vídeos, e visa aumentar a reflexão sobre os efeitos das redes sociais na saúde mental dos jovens. A empresa de Mark Zuckerberg também passou a testar, desde 26 de setembro, a ocultação de reações nas publicações dos utilizadores na Austrália, uma experiência que entretanto chegou também ao Vietname. “Vamos reunir feedback para perceber se essa mudança irá melhorar a experiência das pessoas”, disse Jimmy Raimo, porta-voz do Facebook, citado pelo “The New York Times”.

 

Depois do Instagram e Facebook, resta agora perceber se também o Twitter vai passar a esconder os “likes”. Por enquanto, a rede social deixa a opção aos utilizadores: para ver o número de partilhas e gostos, é necessário clicar no “tweet”. “Estamos a testar muitas opções, mas uma delas é incentivar as pessoas a ler o conteúdo sem reagir”, afirmou Sara Haider, chefe de Produto no Twitter, num podcast.

 

O que muda para nós, utilizadores?

 

Se os “likes” desaparecerem definitivamente, será sem dúvida o fim de uma era nas redes sociais. Mas o que é que levou a esse desfecho? “É muito comum os seres humanos desenvolverem coisas com a melhor das intenções e ter consequências imprevistas e negativas”, explicou ao “The Guardian”, em 2017, Justin Rosenstein, o impulsionador dos “likes” no Facebook, que agora lamenta a sua criação.

 

Com cada vez maior atenção e importância associadas aos gostos, as redes sociais preocupam-se com o bem-estar dos utilizadores e pedem-lhes mais calma e reflexão. Além disso, as consequências do fim dos “likes” seriam menos substanciais do que parece: a opção de gostar de uma foto, vídeo ou publicação continua lá, só desaparece o número total de gostos ao público.

 

“Ao removê-lo [like], as pessoas vão sentir-se mais livres para publicar, porque não serão comparadas”, disse Jesús San Román, cofundador da Binfluencer, citado pelo “El País”. A mudança parece beneficiar o utilizador, mas as redes não impõem uma medida que reduza a opção de gostar de uma publicação. “Entendo que deve haver outro motivo. Estão a testar se a utilização das redes aumenta ou diminui com os likes”.

Resultados positivos, mas só em testes

 

Apesar de os primeiros resultados serem positivos, o Facebook tem tentado, para já, dizer em público que estão apenas a realizar testes. “Estamos a fazer um teste limitado no qual gostos, reações e visualizações de vídeos ficam privados. Vamos reunir opiniões para ver se essa mudança melhora a experiência das pessoas”, comunicou a rede social.

 

A mudança pode ser um fator importante na decisão de mudar o Facebook para grupos mais privados. “Com o tempo, acho que uma rede social privada será mais importante que as praças digitais”, disse Mark Zuckerberg em abril.

 

A verdade é que os gostos já começam a perder peso, à medida que grande parte do consumo no Instagram ou Facebook é feito através de histórias, que não mostram “likes” ou visualizações ao público, apenas ao utilizador que as publica. “Não acho muito arriscado eliminar os gostos, porque no Instagram e Facebook sempre se concentram mais no conteúdo em tempo real e nas histórias que expiram em pouco tempo”, afirmou David Garcia, investigador do Complexity Science Hub em Viena, citado pelo “El País”.